quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Os últimos são os primeiros na Olimpíada de Londres. Por que será?




Um breve olhar no quadro de medalhas da Olimpíada de Londres instiga os que observam o cenário em que os jogos ocorrem. Exceto a China e a Rússia, os países que lideram o ranking de medalhas são aqueles que até recentemente puxavam o crescimento econômico mundial e atualmente passam por uma crise aguda, em que o desemprego e a miséria andam a passos largos. E como tais países permanecem como potência mundial dos esportes?

Os apóstolos do pensamento liberal que ainda predominam nessas nações talvez respondessem rapidamente. Está claro, diriam eles, que apesar dos impactos, a vida em seus países segue normalmente. Não houve perda da qualidade de vida em suas populações e, se isso tivesse acontecido realmente, seus países não permaneceriam hegemônicos nos esportes, já que diante de um abalo na economia esse é um dos primeiros setores a perderem investimentos.

Correto? Nada disso. O equívoco dessa sentença está no fato de que os investimentos esportivos para a categoria de alto rendimento – atletas que se dedicam a participarem de competições de ponta – são feitos, nesses países, pela iniciativa privada. Isto é, por grandes empresas. E mesmo diante da crise as principais marcas do esporte não arrefecem seus investimentos para garantir visibilidade num dos maiores eventos do mundo, o que lhes mantém portas abertas em novos negócios.

Sendo assim, abre-se outra interrogação: por que somente China e Rússia, entre os países que estão na ponta do crescimento econômico, dividem as primeiras posições do quadro de medalhas dessa Olimpíada? Há várias hipóteses para isso. A principal delas é de que os demais países dos chamados Bric’s – Brasil e Índia – são economias emergentes. Não faz nem uma década que alçaram a esse patamar e ainda estão concentrados em superar inúmeras outras fragilidades de seus aspectos sociais, como: analfabetismo, desnutrição, diminuição da quantidade de sem-tetos, universalização do abastecimento de água encanada e energia elétrica, dentre outros. Em situação análoga estão países que compõem blocos econômicos com esses, como os do Mercosul, que fazem reparos sociais, mas muitos não saíram do zero na Olimpíada. A exemplo de Equador e Bolívia.

Alguém poderia questionar: o acesso às práticas desportivas não fazem parte das políticas sociais? Com certeza. E, para me limitar às questões nacionais, o período Lula e o governo Dilma tem atentado para esse ponto, mesmo não podendo ser suas prioridades. Milhares de adolescentes foram iniciados nos esportes a partir de programas como o Segundo Tempo, desenvolvido pelo Ministério dos Esportes. Para citar um exemplo. E esses governos contribuem inclusive com o nível de alto-rendimento, estruturando centros de treinamento e apoiando jovens promessas por meio do Bolsa-Atleta. O desempenho inédito do Judô e do Boxe são frutos disso. Pelo fato da iniciativa privada priorizar seus investimentos nos países onde estão localizadas suas sedes, os atletas tupiniquins não recebem contribuição significativa desse ramo da economia, o que limita seus potenciais.

Não será dessa vez, mas paulatinamente a reordenação da geopolítica mundial chegará aos esportes. Mais jogos menos jogos, veremos o Brasil entre os primeiros desse ranking de medalhas.

Nenhum comentário: