domingo, 5 de agosto de 2012

O samba do julgamento do “mensalão”




A semana que passou retomou a preocupação de alguns mais interessados com os rumos do Brasil. O julgamento do chamado “mensalão” e o linchamento midiático cujos réus têm sofrido em nada acrescenta para o fortalecimento das instituições públicas. Antes, revela uma grande crise delas, principalmente daquelas de natureza jurídica, como o Supremo Tribunal Federal (STF), responsável pela decisão final desse processo.

A força da afirmação que abre esse texto não provém do delírio desesperado de quem simpatizou com os benefícios sociais e estruturantes que o governo Lula deixou para o país. Mas sim da constatação de que o STF, seguido pelo Partido da Imprensa Golpista (PIG), seleciona àqueles que passam pela dureza crítica dos ritos jurídicos e dos editoriais jornalísticos a partir de determinadas conveniências.

Não há por parte da suprema corte brasileira e dos veículos de informação esforço algum de zelar pela ordem, pela probidade administrativa ou qualquer coisa do tipo. Caso houvesse alguma iniciativa nesse sentido, o ministro do STF Gilmar Mendes seria afastado de suas funções, já que seu nome aparece na lista de Marcos Valério – o mesmo que será julgado por Mendes -, como receptor de quase R$ 200 mil do caixa 2 do PSDB em Minas Gerais. Além disso, acrescentariam o que ficou conhecido como valerioduto mineiro na lista dos esquemas passíveis de julgamento dessa corte. Se o esforço que ora fazem tivesse alguma proximidade com a prática efetiva da Justiça, essa dita com J maiúsculo, o tal procurador-geral da República, que se somou as acusações do “mensalão”, desarquivaria o processo e daria prosseguimento no julgamento contra Demóstenes Torres. E, ainda mais, STF e PIG poderiam trazer à tona a sujeira que foi o processo de privatização das empresas públicas Brasil à fora.

Como se percebe, o julgamento iniciado semana passada é apenas mais um capítulo da trama da elite golpista contra governos de linha mais popular e democrática. A busca pela justiça, nesse caso, é aquela pronunciada com j minúsculo; àquela cuja única motivação é enfraquecer adversários políticos.

E nessa continuidade de capítulos, o que ora acontece torna ainda mais evidente as fragilidades e os vícios do STF. Pela escolha que faz de ignorar alguns escândalos e priorizar outros, abre-se uma possibilidade grande do senso comum interpretar tal fenômeno como um encurtamento da distância entre julgamento e negociação. Essa sim poderia ser a conclusão das marionetes que, de perto, assistem o desenrolar do caso com o pretexto de tomarem uma aula de direito.

“Eu julgar? Julgar pra quê? Se daqui eu também tenho que correr”. Um samba é o máximo de aproveitamento que tudo isso pode deixar.

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