segunda-feira, 12 de março de 2012

Isis Tavares: Antes que seja tarde




Passados alguns meses e vários paredões, a polêmica do susposto estupro que marcou o início do Big Brother Brasil 12 arrefeceu. Um excelente artigo da presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher (CEDIM) e Secretária de Relações de Genêro da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Isis Tavares (foto acima), publicado na revista de circulação nacional "Mátria", faz, contudo, que retomemos o assunto.

Confira abaixo. Vale a pena!



Com força e com vontade
A felicidade há de se espalhar
Com toda intensidade...
... Há de fazer alarde
E libertar os sonhos
Da nossa mocidade
Antes que seja tarde
Há de mudar os homens
Antes que a chama apague
Antes que a fé se acabe
Antes que seja tarde”. (Ivan Lins e Vitor Martins)

A repercussão nas redes sociais de uma suposta tentativa de estupro no programa Big Brother Brasil 12, da rede Globo de televisão, traz à tona discussões importantes e inadiáveis. Reporto-me a esse fato pelo nível dos comentários de homens e mulheres de idades variadas acerca do ocorrido no Twitter e Facebook.

Para garantir as cifras arrecadas pela Globo com as votações e o merchandising do programa, chegamos ao limiar da barbárie com Pedro Bial tentando descaracterizar o provável estupro como crime. E o pior: criou opinião! Chamou o possível sexo sem sentimento de “amor”.

Ao longo da história da humanidade, mulheres foram, e ainda são, vítimas das piores humilhações. Foram, e ainda são, barbaramente torturadas e assassinadas para terem, hoje, o direito de reivindicar, na lei e na vida, igualdade.

Felizmente, os blog’s e sítios da internet que debatem o que é veiculado pela grande mídia fizeram o contraponto e um acalorado debate foi travado. Mas por que, com todas as críticas ao programa externadas por muitos (as) como “baixaria”, “porcaria” e outros adjetivos equivalentes, ele está na sua 12 edição?

Por que, apesar dos debates com educadores e representantes da própria imprensa, que concordam com a baixa qualidade da programação ofertada à população, essas empresas de comunicação continuam com esmero a despejar o lixo midiático que produzem nossos lares?


Este é um debate que não podemos postergar!


O que assistimos é a manipulação da opinião pública e a mercantilização das emoções. O consumismo celebrado com endereço certo e por faixa etária e social induz inclusive jovens em formação, que estão mais vulneráveis a determinados comportamentos estereotipados.

Por trás de programas como o BBB existe uma indústria de entretenimento impulsionada pelo mercado que cria as necessidades mais improváveis nas mais diferentes pessoas, como comprar o pay-per-view, todas as revistas com as fotos com e sem roupa dos (as) participantes, as marcas dos alimentos da “casa”, etc.


Isso é indispensável para se viver bem, com qualidade de vida?


Até quando ficaremos passivas (os) assistindo os donos das empresas de comunicação, em especial de TV’s , decidirem o que gostamos de assistir e deixaremos que nossas (os) filhas (os) assistam?

Até quando deixaremos a grande mídia nos teleguiar, interferir no que interessa ao mercado e deixaremos de lado o que realmente interfere no rumo de nossas vidas?
Nós queremos o lixo midiático que é despejado diuturnamente nos nossos lares?
Em pouco tempo, os empresários das necessidades improváveis não medirão esforços para fazer um programa interativo em tempo real, nesses moldes!

Liberdade de escolha restringe-se a assistir o que nos é vendido como “o melhor”, simplesmente desligar a TV por falta de opção ou criar condições de decidir o que assistimos?

Por que a mídia convencional vocifera contra o Conselho de Comunicação e o Marco Regulatório das Comunicações, como tentativa de censura e ataque à liberdade de imprensa, constantemente vai à justiça para tirar do ar os blog’s que manifestam opinião contrária aos seus editores e reportagens?

A quem não interessa a responsabilização e a democratização dos meios de comunicação?
Hoje, apesar da importância e relevância dos mais variados sites, portais, rádios comunitárias e blogs, a imprensa alternativa tem dificuldades para conseguir financiamento. Enquanto a maior parte dos recursos de publicidade oficial ainda é destinada aos canais da mídia convencional.

A Comissão de Ciência, Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara Federal instalou uma subcomissão só para cuidar desse tema em 2012, o presidente da subcomissão será o deputado Júlio Campos (DEM-MT) e a relatora, a deputada Luciana Santos (PCdoB-PE). Entretanto, precisamos ir além disso para garantir a liberdade de expressão e o direito à comunicação de todos e todas. É preciso promover e realizar mudanças no sistema midiático do nosso país.

A comunicação é um direito! E todos e todas devem ter esse direito garantido com a melhor qualidade possível!

Diante dos ataques de grande mídia às famílias brasileiras, as redes sociais foram ocupando o espaço não alcançado nos meios convencionais.

Hoje, a internet tornou-se um meio necessário e importante para a comunicação. É por meio dela que o cidadão questiona, põe em xeque e até consegue, de certa forma, mudar o comportamento da mídia tradicional, vide o caso do próprio BBB12, com a expulsão do acusado do suposto estupro.

Embora seja um direito da população – que paga caro pelo acesso à rede e gera lucro, já que se trata de um produto altamente rentável -, as empresas de telecomunicações ainda oferecem um serviço de internet de péssima qualidade, com intermitência de sinal, lentidão e apagões.

Uma tentativa de mudar esse quadro foi sugerida, em 2009, durante a Conferência Nacional de Comunicação, que caracterizou a Banda Larga como um direito fundamental a ser garantido pelo Estado. No entanto, a definição não saiu do papel até hoje. Os artigos da Constituição Federal que tratam dos meios de comunicação não foram regulamentados até este momento.

Bandeiras como a democratização dos meios de comunicação, a garantia da liberdade de imprensa, a universalização do acesso e a liberdade de internet, o fortalecimento do sistema público e das mídias comunitárias, a valorização e promoção da cultura nacional e sua diversidade, a criação de mecanismo de proteção à infância e à adolescência sobre o conteúdo veiculado nas programações e de responsabilização das concessionárias pela violação dos direitos humanos devem estar na pauta dos movimentos sociais, em especial dos trabalhadores e das trabalhadoras em educação, que são constantemente atacados (as), ridicularizados (as) e responsabilizados (as) pelas mazelas da educação.

A sala de aula é um espaço privilegiado de discussão, sensibilização e formação. É nosso papel fomentar esse debate.

Acreditamos que a história acabou? Que o mundo do jeito que está foi o melhor que a raça humana conseguiu produzir?

Acredito que, com unidade, com força e com vontade, nossa luta há de se espalhar com toda intensidade e há de promover as mudanças que precisamos para o mundo que queremos.

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