quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Eron Bezerra faz apresentação do livro "Dinho, herói da Amazônia"

Como registro do lançamento “Dinho, herói da Amazônia”, publico abaixo a apresentação, de autoria de Eron Bezerra, Secretário de Estado da Produção Rural e autor de “Amazônia, esse mundo à parte”.


“Ao lado das forças egoístas – a serem reduzidas a meios de conservar o indivíduo e a espécie – existem no coração do homem tesouros de amor que a vida em sociedade sublimará cada vez mais” (versos do credo de Rondon).

A origem do Estado de Rondônia está profundamente relacionada às questões da terra. Ao cumprir sua missão, o militar e sertanista brasileiro Cândido Marinho da Silva de Rondon – de onde se originou o nome do Estado – abriu caminhos, desbravou terras, fez mapeamentos de terrenos e, principalmente, estabeleceu relações cordiais com os índios ou donos da terra, dos quais era oriundo por patê de seus bisavós.

Atualmente, a terra ainda é o cerne das questões do Estado de Rondônia, porém, não mais pelo desbravamento dos ignotos sertões da Amazônia brasileira. Hoje a terra é motivo de conflitos entre ruralistas e os sem terra. Esses confrontos resultam em mortes, torturas, tentativas de assassinatos, prisões, expulsões e intimidação por parte dos jagunços e da própria polícia.

Em 1995 a Fazenda Santa Elina, em Corumbiara, foi palco de um dos maiores infortúnios agrários ocorridos em Rondônia e que ficou conhecido internacionalmente como Massacre de Corumbiara, no qual tombaram 16 pessoas! Relatos como este fazem parte do livro “Dinho, herói da Amazônia”, de autoria do engenheiro agrônomo José Barbosa de Cravalho. A obra é uma compilação dos encontros do Movimento Camponês de Corumbiara (MCC) e da Jornada Escuta Brasil, que abordam o crescimento funesto dos conflitos agrários em Rondônia.

No livro, o autor reforça a eclosão conflituosa no campo com a inclusão de relatórios da Comissão Pastoral de Terras (CPT), que desde a sua fundação, em 1975, divulga anualmente o mapa de conflitos agrários no Brasil. Em 2009 foram mais de mil conflitos, com 25 mortes, 71 torturas, mais de 140 ameaças de morte, 204 prisões e mais de 12 mil famílias despejadas! Ainda, de acordo com a CPT, nas últimas duas décadas têm ocorrido significativos e alarmantes conflitos agrários na Amazônia.

Em 2011, foi a vez de Dinho. Sua vida foi arrancada por esses madeireiros na frente de sua esposa e de duas filhas pequenas. Dinho levava sua produção para ser comercializada numa feira em Bela Vista di Abunã quando fooi surpreendido com tiros e não resistiu. Muitos outros tiveram as vidas ceifadas e ainda terão, infelizmente. Mas Dinho deixou um legado de luta e resistência. E merece ser lembrado como herói.

O livro “Dinho – herói da Amazônia”, expõe a trajetória dos movimentos agrários no Brasil, em particular no Estado de Rondônia, um dos nove estados que compõe a Amazônia Legal, com objetivo de contribuir com o movimento camponês brasileiro, em particular o da Amazônia. O autor – um estudioso da questão agrária no Brasil, e autor do livro Desmatamentos, Grilagens e Conflitos Agrários no Amazonas -, proporciona nesta obra uma reflexão sobre a desigualdade vivenciada pelos pequenos produtores rurais, peões, posseiros, índios e migrantes que lutam contra os ruralistas e grileiros por um pedaço de terra.

Para quem vive no campo, um pedaço de terra, por menor que seja, representa não apenas um teto, mas o sustento de uma família e, porque não, de uma nação. Nos mais de quatro anos em que estou à frente da Secretaria de Produção Rural do Amazonas ampliei meu parco conhecimento sobre a reivindicação pelo fim da reforma agrária economicista, na qual prevalece o enriquecimento dos empresários rurais à custa da exploração dos pequenos trabalhadores do campo.

Com a leitura deste trabalho, é possível entender porque o MCC resolveu radicalizar em suas manifestações, como por exemplo, ao bloquear a BR-364. Em cada relato é possível perceber a abordagem responsável sobre a íntima reforma agrária na Amazônia, segundo a visão de quem não apenas estuda a questão agrário no Brasil, mas acompanha o MCC desde fevereiro de 2002.

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