terça-feira, 9 de agosto de 2011

Aqui não é Chile nem Inglaterra, Graças a Deus!



A onda de manifestações juvenis que ocorrem nos países citados no título dessa postagem retomam o clichê com que muitos classificam os jovens canarinhos. “Cadê que os jovens fazem isso no Brasil?”, perguntam alguns. “Aqui tá todo mundo parado!”, dizem outros. Além das duas sentenças estarem no mesmo foco da grande mídia – ou seja, distorcidas -, não temos motivos para invejar o que ocorre em ambos os países. Ao contrário!

Vejamos. A Inglaterra e todos os países centrais do capitalismo sofrem uma das piores crises da História. Nessas nações, a recessão é braba e quem tem pagado essa conta são jovens, mulheres e trabalhadores em geral. O aumento desenfreado do desemprego e o corte brusco de investimentos sociais aumentam a fome e a miséria nas paisagens urbanas que a indústria cultural e do turismo mais ajudou a deleitar. No país do famoso relógio Big Ben, por exemplo, há quem diga que os investimentos direcionados a juventude caiu em 75%.

O Chile, por sua vez, conhecido pelos esportes radicais praticados no inverno, encara um governo direitista depois de ter sido comandado durante 20 anos pela frente popular de centro-esquerda: a Concertación. Com ampla base popular, ela conseguiu avançar em vários aspectos durante suas gestões, em outros, porém, não teve forças suficientes para peitar as pressões do mercado e não conseguiu sanar as demandas sociais.

A resposta que o governo desses dois países dão ao povo piora ainda mais as coisas. No primeiro, jogaram um volume enorme de verbas públicas para salvar o sistema financeiro controlado pela iniciativa privada. Para atenuar o sacrifício das classes populares, montaram um entretenimento barato – quer dizer, caríssimo – no casamento do príncipe William e aglutinaram milhares de pessoas em praça pública para bater palmas ao casal e de quebra legitimar a continuidade da corte borsal e inútil ali instalada. No segundo, a mudança do grupo político não significou a construção de saídas para as demandas ainda existentes, e sim a aplicação do receituário neoliberal que mira o cifrão ao invés de pessoas.

Entende-se, com isso, a série de mobilizações realizadas por eles,que pelos motivos mencionados é melhor classificarmos como revoltas.

Mas no Brasil, convenhamos, o cenário é distinto. A saída encontrada pelo então presidente Lula na crise não foi engordar o cofre dos bancos, mas estufar o bolso das pessoas com o aumento periódico do salário mínimo e, consequentemente, movimentar o setor produtivo. No momento que tivemos para definir se queríamos o término ou a continuidade desse modelo, não titubeamos. Elegemos a primeira mulher presidente da República e a comprometemos com a profundidade dos avanços iniciados nos dois governos anteriores.

O saldo sócio-econômico do Brasil é reconhecido até pela Rede Globo e os demais grupos do Partido da Imprensa Golpista (PIG), que passaram esses anos largando chumbo nas medidas que propiciaram esse cenário. Na manhã desta terça (8), por exemplo, o jornal matutino dos Marinhos ressaltava as características da nova classe média: composta majoritariamente por jovens com salários entre 1,5 a 4 mil reais, sendo que muitos conseguiram comprar o primeiro carro e realizar suas primeiras viagens de aviões. Dê uma passadinha no aeroporto Eduardo Gomes de madrugada que é possível identificar isso. Meu irmão, inclusive, chegará no sudeste do país pela primeira vez. Vai assistir o UFC no Rio de Janeiro ao preço de R$ 1.000, só o ingresso!

Longe de dizer que está tudo resolvido. O maior fórum de discussão política da América Latina, o Congresso da UNE, aprovou a realização de jornada de lutas nacional no segundo semestre para reivindicar mais investimentos na educação. 10 mil estudantes universitários de todos estados disseram que vão lutar por investimentos equivalentes a 10% do PIB para o setor e pela derrubada do veto presidencial sobre os 50% do fundo social do pré-sal destinado ao mesmo fim, aprovado no Congresso Nacional depois dos estudantes irem para as ruas em todas as capitais. Esse ano, pelo menos 15 estados realizaram, simultaneamente, a “Marcha da Liberdade”; dezenas de cidades viram seus estudantes em manifestações por passe livre, meia passagem e no combate ao aumento da tarifa no transporte coletivo. Em alguns locais, houve mobilizações intensas pela garantia da inserção de mais jovens pobres nas universidades públicas. E assim por diante.

De fato, não somos os jovens chilenos e nem os ingleses. Estamos num contexto melhor, mas escolhemos, que nem eles, a luta popular como forma de expressão. A diferença é que aqui isso se dá por mais, melhores e novos avanços!

2 comentários:

Lorenzo Badalamenti disse...

PT e PCdoB revolução dos bichos isso sim, menos tendencioso esse post é impossível mas ainda é valido e interessante.

Jezanias disse...

É isso mesmo, a conjuntura política atual não é a que nós desejamos, mas com certeza é melhor que já tivemos. Lutamos muito sim, lutamos na ditadura, lutamos no fora Collor e continuamos contestando, graças a entidades juvenis de luta e consequentes que sempre atentas estão orientando e chamando nossos jovens ao debate político.