quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Dinho & Nardélio: perdas irreparáveis

Escrito pelo Secretário de Produção Rural do Amazonas, Eron Bezerra. Extraído do Portal Vermelho


No dia 31 de maio um pistoleiro, a soldo de grileiros do sul do Amazonas, ceifou a vida do camarada Adelino Ramos, líder do Movimento Camponês Corumbiara (MCC) e popularmente conhecido como Dinho. O assassinato ocorreu na vila de Extrema, município de Porto Velho, Rondônia, onde Dinho tinha ido comercializar as hortaliças que produzia na gleba Curuquetê no município de Labrea, Amazonas. Sua família, para salvaguardar a própria vida, está sob a guarda do programa de proteção as testemunhas. Estão “presas”, sem passado, sem rosto e sem esperança, enquanto o marginal, devidamente instruído, espera comodamente um julgamento que não se sabe quando ocorrerá.

No dia 30 de novembro, também deste ano, um facínora assassinou com 3 tiros a queima roupa, no município de Humaitá, Amazonas, o camarada Nardélio Gomes, presidente da Associação de Produtores de Matupy, distrito de Manicoré, Amazonas, localizado na Transamazônica. O distrito de Matupy não tem qualquer ligação com a sede do município, o que fez com que Nardélio, na prática, funcionasse como uma espécie de “prefeito” daquela região. O pretexto formal para a sua execução teria sido por divergência de valores no pagamento de um parque de exposição agropecuária que o líder dos produtores de Matupy estava construindo, com o apoio da Secretaria de Estado da Produção Rural (SEPROR) naquela localidade. Parece estúpido demais para se aceitar tal versão. Sua família, igualmente, teve que evadir-se da área.

Os dois eram militantes do PCdoB, defensores ardorosos da causa popular, lutavam para levar paz e trabalho a uma região com rarefeita presença do estado nacional e por isso mesmo, como se chama por aqui, “terra sem lei”. Sabiam dos riscos e nunca se intimidaram. Morreram combatendo os grileiros, os pistoleiros e defendendo o uso racional dos recursos naturais. O mínimo que podemos fazer, alem de exemplar punição aos facínoras que lhes ceifaram as vidas, é continuar as suas lutas. Empunhar ainda com mais vigor a defesa da causa pela qual sacrificaram suas vidas, sem o que tudo o que fizeram terá sido inútil.

Mas uma coincidência incomoda: em ambos os casos esses assassinatos ocorreram após uma aparatosa operação dos órgãos de repressão do governo federal (polícia federal, IBAMA, polícia rodoviária federal), na qual foram feita apreensões de madeiras, motos, carros, etc.

Tão logo a operação cessou tanto Dinho quanto Nardélio foram associados como eventuais responsáveis pelo deslocamento desse aparato (o que jamais ocorreu) e, conseqüentemente pela repressão aos marginais que operam na área.

Tal situação demonstra que atos pontuais não resolvem, não inibe e sim estimula aos facínoras. É preciso, portanto, que o poder público ocupe de forma permanente o sul do amazonas, não com repressão, mas com ações econômicas duradouras que promova o crescimento e o desenvolvimento da região.

O poder público deve isso a esses heróis da fronteira, antes que outros tenham que pagar com a vida a ousadia de tentarem fazer o que o poder teima em não querer fazer. Meus camaradas Dinho e Nardélio vocês são exemplos de luta e honradez, que orgulham a todos que como eu, teve o privilégio de gozar do convívio e da amizade de vocês. Saudades de seu eterno camarada.

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