terça-feira, 1 de novembro de 2011

Um olhar sobre o I Encontro Mundial de Blogueiros




O I Encontro Mundial de Blogueiros, realizados entre 27 e 29 de outubro, em Foz do Iguaçu, levantou uma série de elementos para o debate sobre os rumos da humanidade e a problemática que gira em torno da distribuição de informação e notícias mundo afora. Além disso, o evento em si foi marcado por uma das maiores polêmicas debatidas sobre a internet, que é a censura nesse ambiente cuja vocação é a liberdade e a diversidade na elaboração e oferta de conteúdo.

A iniciativa foi desenvolvida com a repercussão do II Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, realizado em junho, em Brasília. A partir daquela atividade - que contou com a presença do ex-presidente Lula e do Ministro das Comunicações Paulo Bernardo -, a atenção dada à blogosfera progressista elevou-se substancialmente. Vários órgãos passaram a convocar blogueiros para coletivas de imprensa e outras atividades, a fim de contribuir com abordagens diversas sobre o que a velha mídia dissemina a partir apenas do “pensamento único”.

Dentro desse novo fenômeno, a usina binacional de Itaipu surgiu com a iniciativa de patrocinar um encontro mundial para fortalecer essa resistência em escala maior. Segundo seus representantes, o interesse se dá porque a própria empresa já foi vítima da cobertura tendenciosa da mídia tradicional, que repercutia os interesses de alguns grupos econômicos, interessados em desestabilizar seu funcionamento e abrí-la para a iniciativa privada. Uma das acusações infundadas do Partido da Imprensa Golpista (PIG), por exemplo, era de que a área onde a usina está situada servia também para esconderijo de guerrilheiros.

E, pelo que foram os três dias de evento, pode-se dizer que correspondeu ou até superou as expectativas. Chamados para dar cores a idéia, membros do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e Altercom construíram uma programação impecável. A rebeldia que contesta os conglomerados de mídia em escala mundial esteve presente na atividade. O porta-voz do Wikileaks, Kristtin, o criador do jornal Le Monde Diplomatique, Ignácio Ramonet, o jornalista Pepe Escobar, alguns dos protagonistas da “Primavera Árabe”, o colaborador da Lei dos Medios na Argentina, o ex-ministro das Comunicações da Venezuela e a atual titular da pasta no Peru, blogueiros brasileiros e muitos outros aprofundaram o debate sobre a necessidade de marcos regulatórios da comunicação que contemplem a diversidade e citaram vários casos de manipulação e omissão da mídia hegemônica em pautas importantíssimas.

O público presente foi digno do banquete ali apresentado. Blogueiros de 17 estados do Brasil e de 23 países, além dos estudantes da Unila, acompanharam atenciosamente toda a programação e deram sua contribuição para a qualidade das discussões com perguntas e conclusões que ajudaram a jogar mais luz em temas que passam ao largo da opinião pública.

Como saldo, fica a unidade da luta dos blogueiros em âmbito internacional por pautas que os unificam. A reafirmação da liberdade de expressão, a aprovação de marcos regulatórios da comunicação que garantam a diversidade no espectro da radiodifusão, a garantia da liberdade de elaboração e difusão de conteúdos na internet etc., são temas que devem ganhar mais força dentro das reivindicações sociais daqui por diante.

Auto-crítica

Um dos pontos baixos do encontro, reconhecido inclusive pelos organizadores, foi a falta de um momento para propiciar o debate entre os participantes. O único momento que tiveram para intervir foi durante os painéis, quando mandavam perguntas por escrito. Isso inviabilizou a troca de experiências entre o público e deixou de lado importantes contribuições para os temas abordados.

Encontro censurado

O Encontro Mundial de Blogueiros foi vítima de censura na rede social Twitter. A hastag #BlogMundoFoz, criada para divulgar o evento e repercuti os assuntos debatidos, foi twittada milhares de vezes pelos mais de 500 participantes durante os três dias da atividade e em nenhum momento perfilou-se nos Trending Topic’s, os assuntos mais comentados na rede. Pepe Escobar, que participou somente de uma das mesas da atividade e foi bem menos citado que a tag do evento, entrou nos TT’s por mais de uma hora.

Censurar assuntos conforme a conveniência de grupos econômicos e políticos de direita tem sido comum na internet. Durante as semanas que o PIG combateu o ex-ministro dos esportes Orlando Silva, a União da Juventude Socialista (UJS) lançou um twittaço com a tag #SouOrlandoSouBrasil e teve que usar da criatividade para não ver sua campanha ir por água a baixo. Muitos jovens tiveram seus perfis travados e, em outra ocasião, a própria tag foi travada e ninguém conseguia twittar com ela.

Um dos casos mais alarmantes sobre isso ocorre com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc’s), cuja página oficial na rede não pode ser acessada no Brasil.

Limites da internet para as pautas do movimento social

Dentre algumas das avaliações feitas pelos participantes e organizadores do encontro, uma das que mais chamaram atenção foi a conclusão sobre os encaminhamentos para regulamentarem a comunicação no Brasil. O presidente do Barão de Itararé, Altamiro Borges, encerrou o evento dizendo que “as conquistas populares se dão com o povo na ruas. Não será meia dúzia de blogueiros que farão pressão suficiente para aprovarmos o marco regulatório da comunicação”.

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