sábado, 10 de setembro de 2011

Crise e luta de classes no interior das potências capitalistas

A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne 33 países capitalistas considerados mais desenvolvidos, foi forçada a reavaliar para baixo suas perspectivas para a economia mundial. O pessimismo está associado ao comportamento das economias das potências capitalistas agrupadas no G7 (EUA, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Canadá), onde crescem os sinais de paralisia e a possibilidade de recaída na recessão.

A esta altura, os otimistas apostam numa recuperação mais lenta. A ideia de uma forte retomada, que caracteriza as saídas das crises cíclicas convencionais, foi cogitada a partir do segundo semestre de 2009, mas hoje parece definitivamente descartada. Não restam dúvidas de que estamos diante da mais grave crise do capitalismo pelo menos desde a Grande Depressão deflagrada pelo crash da bolsa de Nova York em 1929, que se arrastou pelos anos 1930 e desembocou na 2ª Guerra Mundial.

Mas é fundamental notar a convergência da crise econômica com o processo histórico mais amplo de desenvolvimento desigual das nações, pois embora global (a mais global de todas as épocas) a turbulência não afeta a todos com igual intensidade. É também desigual em suas manifestações concretas e as diferenças, ao contrário do que ocorreu na Grande Depressão, reforçam o sentido geral do desenvolvimento desigual, conferido pela decadência dos Estados Unidos e ascensão da China e pelo deslocamento do poderio econômico do chamado Ocidente para o Oriente e as potências emergentes.

O economista chefe da OCDE, Pier Carlo Padoan, reconhece esta particularidade quando salienta que a tendência à estagnação é visível no G7, que já foi o grupo dos mais ricos (não é mais), ao passo que nos chamados emergentes a tendência é oposta (de crescimento intenso), sendo ofuscada, porém, pelos impactos da crise mundial.

De acordo com a “Avaliação econômica” da OCDE, divulgada quinta-feira (8), as taxas de investimentos nas potências capitalistas estão abaixo das médias históricas. Daí a paralisia. Estima-se para o G7, com a exceção do Japão, um crescimento médio inferior a 1% no segundo semestre de 2011. Em contrapartida, a China deve encerrar o ano com uma expansão superior a 9%, a Índia em torno de 8%, Brasil e Rússia entre 3,5% a 4%.

Não é demais recordar que a atual crise começou com a recessão nos EUA, iniciada no final de 2007. Os governos capitalistas reagiram com uma intervenção inédita sobre as economias de mercado. O recurso à mão forte do Estado foi interpretado apressada e erroneamente como o fim do neoliberalismo.

Governos e bancos centrais derramaram trilhões de dólares e euros na economia mundial, buscando em primeiro lugar o resgate do sistema financeiro, numa ação desesperada que se revelou impotente diante da crise. E o que é pior: os limites dos déficits e dívidas públicas explodiram e as potências capitalistas, bem como algumas nações mais débeis e dependentes (como Grécia e Portugal, entre outros), estão hoje às voltas com alarmantes crises fiscais.

Sob a pressão das dívidas e da concorrência asiática, os governos europeus, a soldo do capital, ressuscitaram as receitas neoliberais e velhos fantasmas de Bretton Woods (como o FMI) para empreender uma ofensiva contra a classe trabalhadora provavelmente sem paralelo histórico. Cortam empregos, cortam salários, cortam direitos, a pretexto de exorcizar desequilíbrios e alcançar a estabilidade fiscal, mas com o real propósito de salvaguardar os lucros escandalosos e indecentes dos bancos, cortar custos trabalhistas e aumentar a competitividade de suas empresas num ambiente de mercados deprimidos e acirrada concorrência internacional.

A crise, desde suas remotas origens (no final dos anos 1970), está diretamente associada à luta de classes, conforme notou o economista Gonzaga Belluzzo em recente debate na sede nacional do PCdoB. Não se deve esperar uma solução progressista para os infortúnios que acompanham os impasses do capitalismo por parte dos Estados burgueses. Esta só poderá provir da luta de classes e, nesta, pelas mãos da classe trabalhadora. A saída da oligarquia financeira, conforme se vê, significa mais crise para os povos e nações e ameaças crescentes de protecionismo e guerra.

No curso deste processo crítico, subordinado à lei do desenvolvimento desigual das nações, vai se firmando igualmente a necessidade objetiva de uma nova ordem internacional, incluindo novas instituições e uma nova moeda. Diante da crise do capital, é preciso que se diga em alto e bom som que a solução passa por mais valorização do trabalho, fortalecimento do mercado interno e novos projetos de desenvolvimento que apontem na direção de um sistema social mais avançado: o socialismo é a solução definitiva para as crises.


Fonte: Editorial do Portal Vermelho de 8 de setembro

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