domingo, 7 de agosto de 2011

Fé e política: o ateísmo produzido por pastores evangélicos



Durante esses anos que contribuo para o caderno estadual do Portal Vermelho, tive a oportunidade de vivenciar momentos singulares. Num deles, em meados de 2009, fui ao encontro de dois deputados da Assembleia Nacional da Venezuela na sala vip do aeroporto Eduardo Gomes. O objetivo inicial era cobrir a recepção de dirigentes do PCdoB aos visitantes que faziam escala em Manaus rumo a Caracas, mas acabei indo além disso e engatei uma longa entrevista que só terminou quando o embaixador venezuelano pediu para ter um tempo a sós com seus compatriotas até que pegassem o vôo.

Os parlamentares encerravam naqueles dias uma longa excursão pela América Latina, onde visitaram o equivalente ao Congresso Nacional de vários países dessa região para denunciar a presença de militares norte-americanos por aqui e os objetivos imperialistas (ou neocolonialistas) por trás disso. Comecei a conversa por aí, mas curioso por entender o processo político venezuelano e as semelhanças e diferenças com o brasileiro, tratei de tudo. Lá para tantas, vejo Carlos Escarrá Malavé, com quem mais falei, dizer que achava um absurdo ver alguns de seus correligionários nas igrejas orando “junto com os outros”.

A revolta do gorducho deputado venezuelano e os “outros” citados por ele justifica-se de algumas maneiras. Naquele país, a consciência política da sociedade e a sensação de pertencimento às distintas classes sociais elevaram-se desde quando Chavez afirmou que levaria a nação ao socialismo. A partir disso, segmentos organizados desnudaram-se e passaram a dizer abertamente de que lado estavam. As igrejas evangélicas, desde então, acrescentaram um novo ingrediente nas suas pregações: combater Hugo Chaves com o rótulo de ameaça ao cristianismo e ignorar a forte agenda de inclusão social e barateamento de alimentos implementada por ele.

“Que absurdo, não poder ser verdade” é o que logo pensam alguns. Mas para quem viveu as eleições 2010 no Brasil sabe muito bem como isso se dá. Afinal, na última eleição, essas contradições estiveram mais latentes por aqui. A direita, com medo de ficar fora do governo federal por um novo longo período, aglutinou o máximo que pôde para se fortalecer e vencer a disputa eleitoral. E do lado deles estavam pastores e líderes evangélicos, com excessão da Universal de Edir Macedo. Silas Malafaia talvez tenha sido o mais comentado nessa situação. Lembro também de um amigo da Presbiteriana citar a verborreia de seu pastor contra Lula e Dilma.

Com isso, pode-se concluir o seguinte: talvez, os responsáveis pela incredulidade de muitos militantes de esquerda são alguns “homens de Deus”, que distinguem classes de pecadores conforme suas afinidades políticas. E não sei se é papel das igrejas, além de evangelizar, fortalecer a esquerda ou a direita.

Nos três anos que busco comunhão com Deus, ainda tenho dúvidas se há fundamentos para isso. E mesmo sendo evangélico e militante político, não gostaria de ver pastores fazendo campanha aos candidatos que defendo. Porque a única diferença seria massificar nos simpáticos ao liberalismo o que está encrustrado na mente de Malavé: acreditar que Deus não é para eles e sim para os "outros".

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