quarta-feira, 22 de junho de 2011

A Parintins que o mundo e o Brasil não conhecem

Por conta da chega de mais um Festival Folclórico de Parintins, apresento, com as devidas alterações por conta do novo contexto, o texto editado do original de título “Parintins para além do Boi Bumbá”, que escrevi ano passado.


Quem vai na ilha tupinambarana após o mês de junho se depara com uma cidade atípica. Parintins conserva fortes traços das cidades do interior do Amazonas com alguns benefícios adquiridos certamente pela visibilidade mundial que ganhou com o espetáculo do Boi.

O município do Caprichoso e do Garantido é, depois de Manaus, o que mais oferece vagas no ensino superior. Lá estão campis da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), da Universidade Estadual do Amazonas (UEA) e do Instituto Federal do Amazonas (IFAM). Até mestrado já tem. Isso a torna município pólo da região do Baixo Amazonas. Para lá se dirigem, anualmente, dezenas de jovens de municípios adjacentes a fim de ingressarem na universidade.

A efervescência de idéias também é um diferencial. Na praça em frente ao bumbódromo, local onde se apresentam as duas agremiações folclóricas, é possível encontrar bancas com venda de livros e revistas. Até livrarias são encontradas em outros pontos da cidade. Na UFAM, existem jovens que lêem, escrevem e falam de haicai. Comparado a municípios próximos, que não consomem nem tira de papel com mensagens bíblicas, isso é espetacular. Em plena selva amazônica, então, nem se fala!

Em 2009, Parintins recebeu o Flifloresta, festival de literatura promovido por uma livraria do estado que leva renomados autores nacional e internacional para discutirem assuntos diversos, lançarem livros, etc. A quantidade de pessoas que participaram das atividades durante o evento e as que qualificaram as discussões surpreenderam os organizadores.

Mas nem só de leituras despretensiosas vivem os parintinenses. Dos 61 municípios do interior do estado, lá é onde as organizações da sociedade civil atuam com mais freqüência. Embora isso ainda não tenha sido suficiente para superar defasagens básicas, as precariedades são enfrentadas com manifestações, jornais populares e enfrentamento social.

Nessa maquete da capital, entretanto, é facilmente perceptível a carência do homem amazônico. A engenhosidade do Boi Bumbá e a forte abstração já presente em centenas de habitantes locais contrastam com a ausência de elementos mínimos para a sobrevivência.

Em vários bairros, multiplicam-se residências de um só compartimento. Muitas casas são de madeiras fincadas em chão de bairro sem preparo algum para aplanar o terreno. A geração de empregos ainda se dá majoritariamente pela prefeitura, que se utiliza disso para frustrar maiores questionamentos públicos.

Os milhares de reais que aportam na cidade por conta da festa dos bois são desconhecidos pela grande maioria da população. Ao povo o saldo que fica é a prostituição de suas crianças, jovens e adolescentes. Bastante fortalecida nos dias do festival. Rotas do tráfico de drogas são consolidadas e novas se criam nesse período do ano. E cresce também o desespero dos profissionais da saúde, que contemplam o aumento de suas demandas sem ter muito o que fazer.

Nesse município, que tem um membro do PSDB à frente da prefeitura e que faz campanha aberta a Arthur Virgilio, cabe uma intervenção pública séria para reverter a realidade local, que nem de longe gera a alegria provocada pela festa dos bois.

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